Os casos de cidadãos se
defendendo por conta própria estão cada vez mais comuns no Brasil. Ainda assim,
a cada novo criminoso cuja condenação e pena são executadas ali mesmo, na rua,
eu me espanto e me pergunto, que tipo de justiça é essa? Quais são as pessoas
que fomentam e quais são as que defendem esse tipo de ação irracional? Bom,
além da incrível “jornalista”, Raquel Sherazade, claro.
Na última semana, não foi menor o
meu assombro diante do caso de Fabiane Maria de Jesus, 33, dona de casa que
morreu após ser arrastada num veículo e espancada por sua vizinhança, no
Guarujá (SP). A mulher fora acusada de sequestrar crianças para rituais de
magia negra. Sem provas. A denúncia, segundo informa a grande mídia, foi feita através
de uma página de Facebook sobre notícias locais. Segundo os administradores do
perfil, o retrato-falado da mulher foi divulgado, seguido de um texto que
ressaltava que aquela informação não havia sido confirmada.
A imagem era de 2012 e se referia
a uma mulher investigada no Rio. Ah, que falta faz uma apuração. Ah, o poder
dos boatos...
Pois é. Por um boato, Fabiane
teve sua vida acabada. De forma brusca. O instinto animal tem exaltado tantos
ânimos no país que os vídeos com as cenas da surra podem ser
encontrados nos sites dos principais jornais brasileiros. Quem aqui é o
criminoso?
Acusação, condenação e pena, todo
o processo que cabe ao judiciário sendo feito por pessoas que certamente não
têm credibilidade para fazê-lo. O ignorante, ou seja, aquele desprovido de
informações relevantes e de conhecimento para formar sua própria opinião, fica
à mercê do que ouve e vê por aí (alô Cidade Alerta, alô Sherazade – te amo!).
Não tenho dúvida que muito em
função dos estímulos provocados por esse tipo de “jornalismo”, que em nada,
NADA, contribui para a formação de um senso crítico, ao cidadão resta agir de
acordo com seus instintos mais primitivos. Ele desconhece, muitas vezes, seus
direitos e deveres, e sem qualquer senso crítico, age de forma passional.
Aos defensores dos justiceiros
Até que ponto devemos legitimar
essa recente onda de justiça com as próprias mãos, com a prerrogativa de que os
cidadãos só estão agindo assim porque os três poderes estão em crise?
Naturalizar – e pior, defender –
atitudes violentas, tidas como autodefesa, como as que levaram ao óbito uma
mulher inocente – segue uma lógica tão ignorante como a de quem a realiza. Ponho no mesmo saco, com toda tranquilidade, o caso de Fabiane e o de ladrões atados em postes, orelhões, formigueiros, país a fora.
As mesmas mãos que atam o criminoso, não precisam recebê-lo em casa e agradecê-lo pelo crime
cometido, mas podem fazer justiça de forma mais eficaz e inteligente. Afinal, é isso que nos diferencia dos demais animais irracionais.
Essas mãos podem empunhar e se somar a manifestações pacíficas em defesa de saúde,
educação, etc., podem participar de reuniões abertas em assembleias
legislativas para ajudar na criação de leis, podem ser usadas de forma
consciente na hora de eleger candidatos.
Aliás, usa sua mão para o que você quiser, meu caro, minha cara.
O que essas mãos não podem é
continuar agindo como se estivessem fazendo justiça, enquanto outras tantas aplaudem essa insanidade generalizada.
Ah, Fabiane, eu sinto tanto por
você.
Completamente de acordo!
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