Foi
em 1994 que eu descobri minha paixão por Copas do Mundo. Com a vitória do
Brasil sobre a Itália, nos pênaltis, garantimos o nosso tetracampeonato, eu, com meus seis
anos, senti pela primeira vez o que era ser cidadã do mundo. Conceito que levo até hoje comigo e
que diz respeito a se considerar humano, merecedor de direitos e deveres, acima
de qualquer outra máxima definida por cada país. É ser comprometido com o
próximo, independente do lugar que você ou ele venham.
A
Federação Internacional de Futebol (Fifa) nunca demonstrou ter essa consciência.
Em lugar nenhum onde ela promove os megaeventos, preocupa-se em melhorar – ou não
piorar – o contexto social do lugar onde vai atuar. Por que seria diferente com o
Brasil? As violações de direitos ocorreram e continuam acontecendo.
Pessoas
foram removidas de suas casas para obras relacionadas à Copa do Mundo, tais
como ampliações de avenidas de acesso aos estádios e a construção
dos próprios estádios. Às vésperas da Copa das Confederações, as ruas de Belo
Horizonte estavam impecáveis, ninguém dava notícias de onde estavam os
moradores de rua. Pois é, o que aconteceu com essas pessoas?
Às vésperas da abertura da Copa do Mundo, aqui, no Brasil, onde estão os cidadãos com quem mais sou comprometida, vem a dúvida: torcer ou não torcer?
Às vésperas da abertura da Copa do Mundo, aqui, no Brasil, onde estão os cidadãos com quem mais sou comprometida, vem a dúvida: torcer ou não torcer?
Seria
eu menos íntegra por acompanhar os jogos e torcer loucamente, como sempre fiz? Estaria
eu desconsiderando o sofrimento do meu país, ao receber gentilmente, a gringaiada que vai baixar em minha cidade nas próximas semanas?
Apesar de fatalista, sei que esse discurso tem força (#nãovaitercopamimimi), e sei que minha indagação é a de muita gente comprometida, por aí. Foram
muitas reflexões que me levaram a conclusão de que não, eu não estaria sendo menos
NADA só por estar acompanhando a Copa.
Primeiro,
porque este megaevento não deve ser visto como o grande responsável pela atual
situação socioeconômica do país. O buraco é mais embaixo. Sabe-se que o maior
violador de direitos dos cidadãos é o Estado e que passando o Mundial ele
vai continuar aqui, para nos atormentar. Torcer pela seleção brasileira, vibrar com o megaevento, não é estar a favor das violações que acometem milhões de brasileiros diariamente.
Torcer pela seleção brasileira, vibrar com o megaevento, não é estar a favor das violações que acometem milhões de brasileiros diariamente.
Além
do mais, o futebol é paixão nacional, e você, sendo ou não um fã, deve admitir
isso. Faz parte da cultura brasileira, sim. Não é um imaginário social, apenas.
Quando milhões acompanham de casa, da rua ou dos estádios, às finais de
campeonatos, é possível perceber isso. Quando, numa abertura de Copa do Mundo,
a seleção brasileira entra em campo e o hino nacional é tocado, aquela emoção que
milhões, como eu, sentimos, não deve ser desconsiderada.
O
legado do Mundial, aqui no Brasil, também tem seu lado positivo. Você que saiu
às ruas em junho – ou mesmo você que nem isso fez – acha realmente que as
manifestações teriam acontecido, caso não soubéssemos que os olhos do mundo já nos estavam mirando? Os protestos do ano passado plantaram uma semente de
revolta e conscientização em muitos cidadãos, que talvez em outro contexto, não
teriam sido tão eficazes.
Vai
ter Copa, sim, e eu vou torcer, sim. Torcer em cada jogo, na mesma sintonia que
um montão de trabalhadores que, mesmo sofrendo com o trânsito infernal dos
próximos dias, e sem a chance de sequer ver os jogos nos estádios, vai abstrair
tudo isso para acompanhar a seleção.
Nesse
momento, pense o que quiser, mas eu continuo pensando que, nesses 90 minutos, estamos unidos em um
só sentimento. Primitivo, bobo, que seja, mas, paixões são assim, mesmo,
irracionais, não se explicam, se sentem.
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